Crítica de Cinema: Hitchcock
domingo, março 03, 2013
Resenha por Thales Américo
Todos conhecem: uma loira tomando banho, se enxaguando em seu chuveiro tranquilamente até que um vulto abre as cortinas do box violentamente e começa a “supostamente” esfaqueá-la. Ora a câmera foca no rosto da moça aos prantos, ora foca na mão (aparentemente uma sombra) empunhando uma faca de cozinha usando-a de forma violenta. Uma música aguda toca ao fundo, criando uma escalada imensa de tensão. Após este rebuliço, a tal jovem se encontra de cara nas lajotas do banheiro de olhos abertos, apática, “supostamente” morta.
Bem, de fato, a faca estava agredindo a personagem e sim, no final ela não sobrevive. Mas Hitchcock usava da sugestão para realizar seu mais famoso projeto, “Psicose”. Tudo era sugerido, a nudez, a morte, a violência. Talvez um dos longas-metragens mais problemáticos e revolucionários do cinema se formava por uma mente brilhante, porém não compreendida. Brigas dentro e fora do set, um diretor que não conseguia separar seu trabalho da vida pessoal (a cena em que ele exige maior intensidade de Janet Leigh no chuveiro mostra claramente a ausência de um limite) e que por possuir um estilo único, enfrentava problemas em todo movimento que pensava fazer. Para ele, “estilo” seria “autoplágio”, e com isso defendia suas irreverentes ideias com unhas e dentes.
Recém-lançado no circuito brasileiro, “Hitchcock” mostra o período dos bastidores e toda a influência da esposa do diretor em “Psicose”, desde sua ideia inicial até seu lançamento nos cinemas, comandado, em sua maior parte com eficiência, pelo estreante Sacha Gervasi. Em sua maior parte porque, em certos momentos, falta um pouco de ousadia por parte de Gervasi e também do roteirista. Há alguns assuntos mais importantes apenas pincelados e outros menos interessantes aprofundados. Todos sabem que Hitchcock era perverso com as atrizes protagonistas de seus filmes, em particular as loiras, o problema aqui é que essa obsessão que Alfred tinha fica pra segundo plano, enquanto o flerte de sua esposa com outro é desnecessariamente mostrado. Tá certo, é importante salientar, veja bem, salientar, que a relação de Hitchcock com Alma era instável e insegura, mas a forma que Gervasi resolve contar poderia ser peneirada, dando a chance de se aprofundar mais ainda nos bastidores do tal filme.
Fazendo essa ressalva, o filme consegue com louvor mostrar todo o talento e genialidade que o mestre do suspense (ele ficou conhecido desta forma depois do lançamento de “Psicose”) possuía, com um Anthony Hopkins irreconhecível e nostálgico. Aliás, é incrível notar como a maquiagem que colocaram nele poderia facilmente o incapacitar de atuar, transformando em uma caricatura ambulante. Bem, no início ele até parece pouco confortável, não conseguindo impor certas expressões faciais que a situação sugeria, mas logo após ele se acomoda e dá um show, assim como Helen Mirren, também ótima.
Ao chegar no final, depois de tanta luta e tanto esforço de Hitchcock para conseguir levar seu precioso projeto às telas, com críticas iniciais negativas, a mensagem que fica do trabalho de Gervasi é simples, mas valiosa: não interessa que todos digam que seu objetivo é de gosto duvidoso ou afirmem que vai ser um completo fracasso, continuar tentando fazer com que dê certo é o que importa. E essa mensagem é válida, assim como o filme por completo, para qualquer amante de cinema. Ainda mais pra alguém que pense em estudar cinema (como eu). Não consigo pensar em um filme mais delicioso pra assistir em um final de semana, e não estranhe se a vontade de assistir toda a filmografia do eterno diretor surgir após os créditos deste rolarem.
Original: Hitchcock
Ano: EUA 2013/ BR 2013
Direção: Sacha Gevarsi
Elenco: Scarlett Johansson, Jessica Biel, Anthony Hopkins
Duração: 98 minutos
Gênero: Biografia, Drama
Classificação: 14 anos
Nota: 4/5
3 comentários:
Olá, Anderson!
Adorei a crítica do filme :D
Tenho vontade de assistir, mas nem tanta. Acho que vou esperar sair na tevê hahaha. Até porque, tenho certeza que vou ser dessas que depois do filme vai querer sair baixando todos os filmes dirigidos por ele!
Beijos
Leeh - hangoverat16
Não sei se quero assistir ao filme, já que nunca vi nenhum dos seus... não faz meu gênero. Mas, sem dúvida, essa genialidade é um marco no cinema. Prefiro ler sobre ele...
ssentrelivros.blogspot.com.br
Gostei muito do filme, achei que ele merecia o premio de melhor maquiagem, depois que vi a transformação do Anthony Hopkins.
Felipe
http://estacaoliteraria.blogspot.com.br/
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