Crítica de Cinema: O Hobbit - A Desolação de Smaug

sexta-feira, abril 04, 2014

Resenha por Thales Américo


A De$olução de $maug

Não se pode negar: o costume de dividir a transposição de obras literárias para as telas pegou. Desde o último capítulo de Harry Potter que toda adaptação literária possui necessidade de dividir pelo menos algum de seus capítulos em duas partes (geralmente o último), unindo o útil ao agradável, lucrando o dobro e ganhando apreço dos fãs do material original. É válido dizer que, nos dois casos que tivemos essa divisão, pelo menos uma dessas duas partes foi prejudicada, seja a arrastada e dispersa primeira parte de Harry Potter ou ambas as partes do quarto capítulo da Saga Crepúsculo que poderiam resultar em algo melhor após o ajuste de parafusos que o anterior havia oferecido à série. Mas e quando decidem dividir um livro menor que o habitual em três filmes de quase três horas cada um? 

Peter Jackson é um sujeito megalomaníaco. Seja como diretor em  “O Senhor dos Anéis” e “King Kong” ou como produtor em “As Aventuras de Tintim” e “Distrito 9”, seus filmes sempre possuem ar de grandiosidade. É uma pena que tenha passado dos limites em “O Hobbit”. Se a já tradicional divisão em duas partes da obra parecia justificável vide o vasto universo criado por Tolkien, dividir um livro de um pouco mais de 300 páginas em três capítulos é exagero. O primeiro capítulo mais funcionava como um sonífero mal intencionado do que como uma aventura de descobertas que outrora víamos em 2001. Onde antigamente tínhamos uma estrutura sólida com personagens bem apresentados e um protagonista insosso, agora temos momentos esticados que implicam numa falta de ritmo colossal, acompanhados de um protagonista carismático com personagens coadjuvantes envolvidos em situações bem menos interessantes (parece impossível distinguir um do outro na trupe de anões além de Thorin). O tal “gostinho de quero mais” ao final da primeira parte era inexistente, então cabia agora à segunda parte definir os rumos que a história iria seguir. Bom, a estrutura desengonçada continua a mesma, pelo menos agora uma pitada de diversão é acrescentada. Com medo de soar chato (?), além de o diretor acrescentar alguns personagens que não estavam no material original, também desenvolve alguns apêndices encontrados em outras obras do mesmo universo de Tolkien, o problema é que isso escancara a desnecessidade dessa segunda parte para o cinema.

De fato, continuamos com a jornada de Bilbo pela Terra Média, mas simultaneamente acompanhamos arcos de personagens que não alteram em nada a “viagem”, é muito personagem para pouca coisa a ser feita. 

Passamos mais duas horas e quarenta minutos acompanhando algo que poderia ser contado em apenas uma hora, logo, duas partes dariam em algo muito mais impactante e menos desinteressante, podendo deixar as sobras para uma versão mais longa e aficionada para os fãs. Vemos o já conhecido Legolas, Tauriel, uma elfa criada especialmente para o filme interpretada por Evangeline Lilly, e um dos anões envolvidos em um triângulo amoroso piegas que se leva à sério, se ao menos esse romance fosse levado na veia cômica ajudaria a deixar a experiência mais divertida. Porém, Peter Jackson usa a mesma megalomania para dirigir as cenas de ação, que são mais constantes agora que tudo tomou rumo, com closes longuíssimos e cenários lindos, deixando a experiência anos luz mais agradável que o primeiro capítulo. Ao chegar à cidade dos anões tomada pelo grandioso Smaug, fica claro que o que veremos no terceiro e último (oremos) será muito mais interessante do que o que vimos até ali. Se antes esquentávamos na interação de Bilbo e Gollum e esfriávamos na continuidade do roteiro até o fim do capítulo, a cena de Bilbo com o dragão deixa o espectador tão quente quanto o fogo que Smaug cospe. Agora sim podemos esperar uma reação de alguma das partes da nova trilogia da Terra Média que não seja o sono.

Título: The Hobbit: The Desolation of Smaug
Lançamento: 2013
Direção: Peter Jackson
Duração: 161 minutos
Elenco: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Ken Stott, Graham McTavish, William Kircher, James Nesbitt
Gênero: Aventura, fantasia
Classificação indicativa: 12 anos
Nota: 6/10


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