Crítica de Cinema: Carrie, A Estranha
domingo, dezembro 08, 2013
Resenha por Thales Américo
O que provavelmente aconteceria se Jean Grey sofresse bullying no colegial.
Na época em que estava filmando, a diretora Kimberly Peirce prometeu inúmeras vezes que seu novo filme, “Carrie, a estranha”, não era um remake da obra de Brian de Palma, mas que se tratava de uma nova releitura da história de Stephen King, trazendo para os dias de hoje a alarmante história de Carrie White, uma menina vítima de bullying com níveis cada vez maiores e que, com a chegada da puberdade, ia desenvolvendo um poder telecinético cada vez maior também. Assistindo a esta nova “releitura”, fica evidente a colagem de Peirce ao copiar inúmeros closes do filme original e a tentativa de criar algo novo tomando a liberdade de fazer mudanças da obra em que se baseia. Mas, como ela afirma ser uma nova adaptação, analisemos por este ponto.
Quando é feita uma adaptação de algum livro ou qualquer outro material que serve de fonte, como o próprio nome já diz, é preciso ser feita uma “adaptação” da história pras telas, nem tudo o que funciona em outras mídias tem a capacidade de funcionar no cinema. Por mais fã que a pessoa seja, tem que aceitar que mudanças são necessárias na maioria das vezes. O problema vem quando certas mudanças não possuem qualquer propósito, mudam por mudar, podendo ir desde consequências simples a catastróficas. “Carrie”, infelizmente, está na segunda opção. A protagonista aqui não possui explosões de raiva por ser vítima, ela sabe dos poderes que tem e os controla rapidamente, a direção não faz uma escalada, é tudo jogado na tela muito rapidamente. Carrie aprende a utilizar seus poderes com a mesma ansiedade que Peter Parker possuía com seus poderes para tornar-se Homem-Aranha em 2002. E tudo é filmado mais como uma adolescente descobrindo seus dons e menos como uma vítima da transformação de seu corpo, de sua mãe e dos adolescentes com os hormônios em fervo. Vemos uma atriz como Chloë Grace Moretz, mesmo sendo muito bonita e não tendo nada de estranho conseguindo com êxito montar uma protagonista frágil que demonstra em sua postura, seus gestos e meios sorrisos os resultados da vivência dela na escola e em casa, à mercê do equívoco que a direção e o roteiro possuem. Há momentos em que pensamos estar em um filme destinado ao passatempo adolescente, indignos de serem levados a sério. A única atualização que o roteiro se preocupa em fazer é tentar incluir a utilização de celulares e vídeos postados na internet, mas isso é tão mal usado que nem assim dá o frescor de que estamos vendo algo novo. E é interessante notar que mesmo com diálogos pobres e inexpressivos, as duas atrizes principais consigam se sair tão bem. São os momentos entre Moretz e Moore que salvam o filme do completo esquecimento, a segunda atriz consegue criar uma ótima Margaret White mesmo sem poder se aprofundar no tema religioso. Aliás, já não bastasse o enfraquecimento do roteiro em relação à sua protagonista, ele também não pretende ousar em sua parcela religiosa com a coadjuvante, se contendo em apenas citar versos da bíblia nos diálogos entre elas (o mais longe que vai é “go to your closet and pray”) e colocando Margaret em situações que mais a faz parecer como alguém com deficiência mental do que fanático por sua religiosidade (bater a cabeça na parede, oi?).
Pelo menos, ao momento em que todos estavam esperando, o ápice, apesar de ainda afetado pela ciência que Carrie tem de seus atos, temos um vislumbre (sim, a cena é rápida) de criatividade e um bom uso da atriz na cena do baile. Ali, ela demonstra disposição para fazer caras e bocas da raiva ao sofrimento em transformar seus queridos colegas em vítimas (pelo menos até a cena em que chega a grande vingança contra a whore queen da história, com uma cena risível à la Hulk envolvendo rachaduras no chão). E quanto ao final “diferente” que Peirce também prometeu, não existe. Ela, de fato, pega muito da criatividade que Brian de Palma tinha e faz uma colagem bem amadora no resultado final. É uma pena, porque poderia ser um grande trabalho em sua filmografia. Fazendo as contas, é de se presumir que esta nova adaptação de Carrie não sobreviva na memória por nem um terço do que o clássico sobreviveu. Entre os inúmeros pronunciamentos dos envolvidos neste novo longa e dos antigos, Sissy Spacek havia comentado que estava confiante e que a história precisava ser levada pra vida dos jovens de hoje. Bem, se tem uma coisa que este filme faz muito bem é criar a vontade de voltar a assistir ao clássico de 1976.
Título: Carrie
Lançamento: 06/12/13 BR - 07/10/13 EUA
Direção: Kimberly Peirce
Duração: 100 minutos
Elenco: Julianne Moore, Chloe Grace Moretz, Gabrielle Wilde,
Portia Doubleway, Alex Russell, Zoë Belkin, Ansel Elgort
Gênero: Suspense, Drama, Terror
Nota: 4/10
2 comentários:
Se desse para bater palmas aqui no computador, eu bateria!
Parabéns. Disse TUDO. Fui assistir hoje essa coisa no cinema, tô até agora sem entender.
Quando sai do cinema eu e minha amiga nos olhamos e: WTF? Parece que a gente nem tinha assistido filme algum... de tão sem graça... salvo as interpretações das duas protagonistas, como tu mesmo disse.
Parabéns, adorei! Estou batendo palmas para as tuas palavras aqui. ;)
www.livrosechimarrao.blogspot.com.br
Não gostei desse filme também, achei super fraco.
Na verdade, eu nem sei o que dizer, eu saí do cinema muito desapontada com o que vi... Criei tantas expectativas, teve tanta divulgação, que achei que o filme ia ser o máximo! Mas não foi. Gostei muito da atuação de Julianne Moore, mas a personagem em si não foi lá essas coisas não. Achei a atuação da Chloe Grace Moretz não tão boa quanto eu imaginava que seria, mas acho que isso também foi culpa da personagem. Prestei muita atenção no Ansel Elgort, pois ele vai atuar em ACÉDE, e acho que ele será um ótimo Augustus Waters :)
Adorei a resenha! Beijos!
http://temponaoperdido.wordpress.com/
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